2.25.2010

O futuro é mobile

O consultor alemão Gerd Leonhard, chamado de futurista da mídia, aponta, em evento organizado pela NBS, que as plataformas móveis representam o grande desafio das marcas

Charles Darwin, o naturalista inglês, juntou-se a Steve Jobs, o criador da Apple. Johannes Guttenberg, inventor da imprensa, e Rupert Murdoch, o magnata da mídia, também estiverem presentes. Esses nomes ajudaram a explicar o futuro da comunicação, tema da palestra que o consultor, músico e escritor alemão Gerd Leonhard apresentou nesta quarta-feira, 24, em São Paulo.

Leonhard é chamado de futurista da mídia. Seu papel como consultor de marcas é estudar as ideias inovadoras e encontrar maneiras de mantê-las conectadas com as mudanças processadas pela vida digital - ou pela cultura de banda larga, como gosta de dizer. Ele trabalha com uma equipe de futuristas para desenvolver esses projetos para empresas como operadoras de telefonia celular. São formas de planejar o futuro diante do que já acontece hoje.

E um caminho que é preciso estar no planejamento estratégico das marcas é o mobile. Leonhard lembrou que o presidente do Google, Eric Schmidt, comentou durante o recente Mobile World Congress, em Barcelona (em fevereiro), que a empresa está se concentrando no setor com um foco urgente e prioritário. E citou, numa comparação divertida com a CNN, que o futuro é TNN. Ou melhor, Twitter News Network, esclarencendo que as notícias se alastram pelo Twitter, o que é feito perfeitamente pelo celular.

O palestrante mencionou uma frase de Murdoch, que criticou a venda de livros pela Amazon a US$ 9,99 por achar que isso prejudicaria os negócios do setor. "Eu também critico os US$ 9,99. Se fosse por US$ 1,99 venderia muito mais", disse. Como exemplo a ser seguido, Leonhard apontou Steve Jobs.

Com uma longa história na indústria musical (o consultor chegou a ganhar um prêmio Quincy Jones como jazzista), ele recomenda que não se repitam as atitudes das gravadoras frente ao avanço digital: é importante observar as tendências do futuro não para evitá-lo ou proibi-lo. A questão fundamental nesse caso é a adaptação. Para explicar melhor seus argumentos, Leonhard usa a figura de Darwin. Sobreviverá quem souber evoluir. Quem souber se adaptar. "Na internet, não pensem em jardins floridos e fechados por muros. Pensem em ambientes abertos e que permitam a colaboração das pessoas."

Para ele, o que vingará é a comunicação mobile - o que inclui os tablets, que poderiam propiciar a "imersão 2.0", em que o usuário mergulha no conteúdo multimídia oferecido por esses aparelhos -, interativa, cross-media e em tempo real. Tudo isso amarrado com atração e dentro de um contexto.

Nesse cenário absolutamente conectado, a publicidade tem vez? De acordo com Leonhard, sim, mas se ela se tornar conteúdo. Também é fundamental oferecer experiência. Um exemplo é o que a Nike fez ao lançar Nike+. "A estratégia não teve nada a ver com calçados".

O futurista abordou também o que chama de suposições tóxicas. Ou seja, ideias preconcebidas que acabam se transformando em obstáculos para a evolução de qualquer negócio na esfera digital. Uma delas é acreditar que é possível ignorar as necessidades dos consumidores e modelar para eles o que as empresas querem que seja feito.

Outra é imaginar que quanto mais controle, mais dinheiro. Leonhard pondera que o controle não está mais na mão das empresas, e sim na dos usuários. Daí porque essa suposição não resulta em ganhos. Quem persistir nessa postura, acabará perdendo dinheiro mais para a frente porque a companhia será rejeitada pelos consumidores. "Se você é uma marca e quiser controlar a mensagem, está perdido". O dilema dos dias atuais seria algo na linha "internet aberta x mentes fechadas".

Confira abaixo outras análises e comentários feitos por Leonhard no evento:

- O medo da mídia diante da internet - "Gutenberg causou uma revolução. Quando lançou a bíblia em alemão, a Igreja se revoltou. Não queria uma bíblia em alemão. Só poderia ser em latim. Mas depois ela aceitou. A internet perturba as empresas de mídia. Elas não sabiam o que fazer. Agora todas estão buscando fazer negócios na web. Perceberam que essa é a melhor opção. Porém as boas oportunidades não virão dos países desenvolvidos. Lá, os negócios estão estagnados. Nos mercados em desenvolvimento há grandes possibilidades de explorar o mercado conectado."

- Cross-media - "Não é verdade que a mídia de massa vai desaparecer. Ela é importante, mas será preciso ter uma maior convergência. O segredo está em combinar a mídia de massa com a mídia de nicho, que é a internet. Cada jornal está se tornando também um canal de vídeo. Tudo está virando cross-media. A Sports Illustrated não é somente uma revista quando você vê o que ela está fazendo nos tablets. Ela é totalmente cross-media. Hoje, no bar, os homens não ficam mais discutindo sobre carros, mas falando sobre os aplicativos que tem no iPhone. Há esperança para as editoras."

- Mídia social - "A expressão é inútil. O importante é pensar num sistema social. Se a empresa achar que o investimento nessa área se trata de ter uma conta no Facebook, então, ela aposta no caminho errado. Se usarmos a expressão mídia em rede ou mídia engajada é melhor porque o assunto é mais profundo do que estar no Facebook ou no Twitter."

- Pagamento por conteúdo - "As pessoas compram conteúdo quando encontram valor ou quando a embalagem do que se oferece é bonita. Temos de ter influência, ser transparentes e fazer com que o usuário confie em nós. Confiança é algo que não se inventa na internet."

- Conteúdo e contexto - "O conteúdo é rei. Mas o contexto também. Assim como a relevância e a conveniência da informação. Isso já está acontecendo nos dispositivos móveis. Há muito ruído na internet. A web não significa harmonia. O que se busca agora é um filtro de informações. Isso o jornal pode fazer. Ele pode dar sentido a tudo. O mais importante é o papel de curador da informação. Filtrar é muito difícil."

- Livros - "O mercado está passando por um momento Napster. O gratuito está acontecendo agora. Muitas pessoas estão compartilhando as páginas que copiam dos livros e colocam na internet. O futuro do conteúdo é a remuneração e não o controle. Mas o que as empresas vendem não são mais coisas, e sim serviços e experiências."

Fonte: M&M Online

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